Maior granja de ovos da América do Sul dá liberdade às galinhas

Globo Rural

Numa área de 84.000 metros quadrados, em Paraíba do Sul, município na divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais, 500 mil galinhas vivem hoje dentro de 50 galpões espalhados pelo terreno cercado de montanhas que pertence ao Grupo Mantiqueira, maior produtor de ovos da América do Sul. Com alimentação balanceada e água à vontade, as aves, que ficam livres no local, aproveitam os poleiros para descansar e dormir. A cada 26 horas, em média, botam ovos. Profissionais visitam os ninhos para recolher manualmente cada ovo e enviam-no para a classificação.

A criação à moda antiga, mas em escala, é totalmente diferente da adotada nas outras unidades do grupo, dono de 11 milhões de aves e um dos primeiros a automatizar totalmente a produção de ovos no Brasil, no fim dos anos 1990. Mais de 20 anos depois de importar a tecnologia e  robotizar a avicultura de postura, decidiu entrar num mercado em que o moderno é usar menos equipamentos, mais gente e gerar conforto para as aves poedeiras. É a chamada criação de “galinhas felizes”, porque os animais ficam livres das minúsculas gaiolas presentes no sistema convencional, que predomina nas granjas brasileiras.

Bastante comum em países europeus, o sistema conhecido mundo afora como “cage free” (livre de gaiolas) mira uma demanda de consumidores preocupados com a origem dos alimentos e com o bem-estar dos animais usados nas granjas. Mas os custos de produção elevados e o mercado consumidor ainda engatinhando no Brasil limitam a expansão do sistema no campo.
O maior custo da criação livre é estrutural, diz Leandro Pinto, fundador da Mantiqueira. Num galpão de sistema convencional, é possível alojar 100 mil aves. Na criação livre, segundo ele, o mesmo galpão aloja 40 mil. Isso porque há um limite de galinhas por metro quadrado, o que garante ao animal maior espaço para expressar seus comportamentos naturais, como abrir as asas, pular, passear... E ainda tem o manejo quase totalmente manual de animais e ovos. “Preciso de uma pessoa para cada 5 mil galinhas, 20 pessoas a mais que o exigido pelo sistema convencional. Ou seja, só nessa granja,  meu quadro de funcionários aumentou 20 vezes”, explica o executivo.  Com a despesa elevada na origem, os ovos produzidos por galinhas felizes acabam ficando até 60% mais caros que os convencionais. Uma bandeja com dez unidades de ovos cage free é vendida a R$ 6 pela Mantiqueira (R$ 0,60 por unidade), contra R$ 4 pela dúzia do produto comum (R$ 0,33 por ovo).

Mineiro de 49 anos, Leandro entrou na produção avícola de postura aos 18, quando arrendou a primeira granja de um amigo que estava com problemas de saúde. Começou com 30 mil galinhas e hoje administra um negócio 300 vezes maior em número de aves e que rende 6 milhões de ovos por dia – 450 mil ovos vêm do sistema cage free.

Apesar da baixa representatividade do segmento na produção total da empresa, o executivo diz acreditar no futuro da criação livre de gaiolas. Segundo Leandro, galinha feliz põe 5% mais ovos em relação ao sistema convencional. Na criação com gaiolas, as aves põem um ovo a cada 28 horas, duas horas a mais que na produção “sem estresse” aos animais.

Consumo

No entanto, há mais ovo que mercado cage free no Brasil, conta o sócio da Mantiqueira, embora o gráfico de consumo do produto nas grandes redes de supermercados aponte para o alto. Segundo o Grupo Pão de Açúcar (GPA), um dos maiores varejistas do país, as vendas dos ovos livres de gaiolas crescem em ritmo além do esperado nas lojas da rede. Nos primeiros 60 dias do lançamento dos produtos nas gôndolas, foram vendidas 60 mil bandejas com dez unidades cada. Os números atuais não são divulgados pelo GPA, mas Luiz Claudio Haas, gerente comercial da companhia, diz que o ovos continuam em alta no varejo. “A gente começou o projeto com o objetivo de atingir 1,5% do total de vendas de marcas exclusivas do Pão de Açúcar. Estamos um pouco acima de 3% e devemos chegar a 5% de participação até o fim do ano”, afirma.

Pressionado por ONGs que defendem o bem-estar animal, o GPA assumiu, em março deste ano, o compromisso de, até 2025, comercializar 100% de ovos cage free com suas marcas exclusivas. A Mantiqueira foi o primeiro fornecedor da rede a topar o desafio. Segundo Luiz Claudio, a  Korin, outra gigante da agropecuária nacional, passará a fornecer ovos cage free ao GPA a partir deste mês.  “Quanto mais conseguirmos fazer a venda aumentar e a participação desse produto subir, com novos fornecedores, ganharemos escala e o preço, que hoje é 15% acima do convencional, deve ficar mais acessível”, analisa o gerente.



Data da Notícia: 14/02/2018
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